Literatura em Libras

de Rachel Sutton-Spence

Parte 2 - A produção de narrativas e contos em libras


10. Literatura cinematográfica e o Vernáculo Visual (VV)

objetivo

10.1 Objetivo

Neste capítulo, veremos dois elementos da literatura em Libras usados para se construir e apresentar poemas e histórias visualmente: as técnicas cinematográficas e as mímicas - ou técnicas teatrais. No capítulo 07, conhecemos o Vernáculo Visual (VV). Frisamos que ele não acontece em todos os poemas e narrativas, mas é uma opção atualmente muito comum e valorizada pela comunidade surda brasileira.

lista de videos

Vamos, então, pensar mais sobre as técnicas cinematográficas e mímicas em Libras antes de retomarmos o Vernáculo Visual. Para ver alguns exemplos, vamos assistir a alguns novos vídeos e voltar para outros já conhecidos:

10.2 Histórias cinematográficas

Já sabemos que os filmes influenciam muito a literatura em Libras. Embora sejam feitos por pessoas ouvintes e tenham muitos diálogos não acessíveis aos surdos24, são a forma de entretenimento cultural mais popular entre a comunidade surda. Muitos artistas de Libras falam da influência das películas no desenvolvimento de suas habilidades, pois têm o hábito de assistir aos filmes e depois recontá-los em Libras para os amigos. Essa tradição parece ser mundial, sendo descrita por autores dos Estados Unidos, Reino Unido e até da Tailândia, que falam sobre as origens da literatura surda (RUTHERFORD, 1993; LADD, 2003; REILLY; REILLY, 2005). Os filmes de aventura e ação, como os de faroeste ou os da Marvel (tais como X-Men) fornecem muitas oportunidades para se criar histórias visuais em Libras.

É importante observar que as histórias em quadrinhos e os jogos de videogame também apresentam elementos visuais semelhantes aos dos filmes por contarem histórias de ação, mas não serão foco de discussão neste capítulo.

Vimos, no capítulo 07, que existem elementos visuais nas narrativas que têm paralelos nos filmes. O impacto vem particularmente do contraste de imagens como: perto-longe, alto-baixo, esquerda-direita e rápido-lento. O pesquisador americano Dirksen Bauman (2006) mostrou o valor de se descrever a arte em língua de sinais como se fosse uma forma de filme. No Brasil, as pesquisas de Nelson Pimenta (2012), ator e artista de Libras, e de Saulo Vieira (2016), descrevem como usamos as técnicas fílmicas na produção de narrativas em Libras para mostrar as diversas perspectivas de um evento visual.

Nas contações de histórias cinematográficas, é como se o artista tivesse uma "câmera em mente" ou como se o público visse a apresentação projetada pelo artista numa tela. A partir desse olhar, os sinais podem mostrar “close-ups”, planos médios e “long-shots”. Vemos os sinais e as cenas a partir da perspectiva do narrador ou do personagem – ou de ambos (através de uma “montagem”). O sinalizante pode dar um zoom ou diminuir esse zoom e mudar o ângulo das tomadas.

A linguagem do cinema tem a sua própria gramática. Os espectadores de um filme entendem como as tomadas e as cenas são criadas e como devem ser percebidas. Essa gramática cinematográfica dos filmes tem muitos paralelos com a gramática visual da Libras. Bauman afirma que podemos usar a linguagem dos filmes para descrever qualquer discurso sinalizado, não apenas o literário, porque toda a produção de uma língua de sinais é uma performance visual que acontece dentro do espaço e do tempo, como num filme. Essa é uma perspectiva muito útil para se compreender o impacto do visual namos falar dos seguintes vídeos na nossa exploração do assunto: linguísticos de classificação dos sinais.

Em termos fílmicos, aproximar a imagem (transferir a imagem pelo corpo) significa a transferência do personagem na ideia de transferência de Cuxac e Sallandre. Sob o ponto de vista linguístico mais tradicional, isso é chamado de incorporação.

Aproximação intermediária e distanciamento (transferir a imagem para as mãos) é um tipo de transferência de situação que usa os classificadores de pessoa e objeto, como são conhecidos sob o ponto de vista linguístico tradicional.

Aproximação intermediária e distanciamento também é denominado transferência do tamanho e forma e classificadores desse tipo.

A montagem em termos fílmicos mescla ou combina diversas imagens. Na teoria de Cuxac, vemos isso como uma combinação de duas transferências e, nas outras teorias linguísticas, isso se chama espaço dividido (DUDIS, 2004).

10.2.1 Tamanho e distância da imagem

Mostrar a vista panorâmica

No início de filmes, é comum vermos um panorama amplo, mostrando a vista inteira da cena. É isso que a poeta faz na abertura do poema Voo Sobre Rio, ao mostrar através de classificadores os pontos principais da cidade pela qual o pássaro passa. Jaguadarte abre com uma descrição completa da vista do guerreiro, do elmo, da couraça, do escudo e da lança. Depois, vemos um panorama da paisagem por meio dos classificadores que destacam os vales, as árvores e as rochas até a caverna com as estalactites pingando. Também Klícia Campos cria uma vista panorâmica no início do seu poema Meu ser é nordestino, que veremos em maiores detalhes no capítulo 15.

Aproximar a imagem

O poema Voo Sobre Rio começa com a imagem de um planeta muito distante. Nos aproximamos do planeta e os sinais mostram-no girando e se aproximando cada vez mais, do ponto de um dedo aos dedos fechados de uma mão, depois aos dedos de duas mãos juntas, até as duas mãos separadas.

Durante o voo, o pássaro passa pela estátua do Cristo Redentor e vemos novamente uma aproximação da imagem. No início, dois dedos cruzados (classificadores ou transferência de situação) estão longe do corpo da poeta. As mãos se aproximam do corpo, dando um zoom, e ela abre os braços para incorporar a estátua. Em outro trecho, aproximando-se do Pão de Açúcar, as mãos fechadas e juntas se abrem e se separam, aumentando o tamanho da imagem, para dar um zoom novamente.

Em Jaguadarte, o classificador é de um humano em movimento a pé, representando o guerreiro a passar pelo campo em sua busca. Quando ele entra na caverna, os dedos da mão fechada que pareciam representar uma rocha se abrem para criar uma caverna nessa rocha, para permitir a entrada da forma de classificador do guerreiro. A mão não dominante, em seguida, passa sobre a cabeça do artista para criar um efeito de modo que o público saiba que está vendo o guerreiro incorporado. Dessa maneira, vemos o equivalente a um plano de close-up. Quando o monstro acorda, vemos a incorporação dele inteiro no corpo e os braços e as mãos do artista se tornam os membros e as garras do monstro - o que geralmente é considerado uma tomada de close-up. No entanto, o poeta nos leva ainda mais perto quando as suas mãos se tornam apenas a boca e os dentes do monstro.

Ressaltamos que o público de uma performance literária ao vivo (e em muitas gravações) sempre pode ver o corpo inteiro do artista, e as pessoas sabem qual é a parte do corpo que mostra a informação linguística necessária para a imagem visual. Quando o artista Aulio mostra o guerreiro pelo classificador a distância, o público entende que o corpo dele é o corpo do narrador e que a principal ação está nas mãos. Quando o guerreiro entra na caverna, toda a informação dada pelo corpo de Aulio é importante para a história porque este se tornou o corpo do guerreiro por incorporação. Essa habilidade para entender o que importa e o que não importa do corpo é fundamental para compreender tais mudanças de perspectiva.

No vídeo X-Men Apocalipse - Mercúrio, de Cézar Pedrosa de Oliveira, os sinais seguem exatamente as tomadas do filme e a edição do vídeo também revela isso. No momento do close-up nos pés de Mercúrio ou da abelha na flor, o quadro do artista mostra apenas as mãos dele – não vemos o restante do seu corpo. Numa performance ao vivo, o público sabe que deve focar apenas nas mãos; no vídeo, a edição permite que vejamos apenas as mãos.

Aproximação intermediária

No poema Voo Sobre Rio, de Fernanda Machado, temos três aproximações dos pássaros. Uma mais de perto, que mostra mais detalhes, é feita por incorporação, onde o corpo e a cabeça do humano são os mesmos do pássaro e os braços abertos e estendidos são as suas asas. A perspectiva mais distante, mostrando poucos detalhes do pássaro além do local e a forma de movimento, é feita com as duas mãos entrelaçadas, que são as asas. Porém, há a opção de uma aproximação intermediária, que Fernanda usa na parte central do poema, na qual o antebraço é o corpo do pássaro e a mão com os dedos fechados para criar um “bico” é a cabeça25.

Distanciar

No final do conto Jaguadarte, o monstro fica “superaproximado” e os sinais são feitos muito perto da câmera. Essa é uma maneira de terminar uma história com uma emoção muito forte. No entanto, outras narrativas têm um desfecho mais suave e o distanciamento é uma opção para revelar a finalização. No poema Voo Sobre Rio, vemos as imagens se distanciando, os pássaros voam, vão diminuindo, e Fernanda mostra isso através da redução da incorporação em transição para o uso de um sinal classificador para os pássaros. O planeta também diminui da forma contrária em que cresceu, terminando com uma ponta de dedo.

Alternar

A alternância entre os tipos de transferência e as imagens dos personagens e objetos cria variação estética em uma narrativa. Também permite ao narrador descrever o contexto em que os personagens interagem. Podemos ver o movimento deles no espaço da narrativa através da distância, mas também a forma física, o comportamento e as emoções através da aproximação.

No filme X-Men Apocalipse, a edição do filme original da Marvel alterna as tomadas – perto e longe, focando em Mercúrio e no que ele vê. O artista Cézar Pedrosa de Oliveira segue essas tomadas na obra X-Men Apocalipse - Mercúrio. Quando o filme mostra Mercúrio a distância, Cézar usa um classificador de distância e, quando o filme apresenta uma tomada em close-up, ele usa a transferência de pessoa para incorporar o personagem.

Podemos também alternar entre dois personagens para ver a interação. Em Jaguadarte, o monstro e o guerreiro lutam. Vemos o ataque do monstro de duas perspectivas: a do monstro e como esse ataque atinge o escudo do guerreiro. No poema Voo Sobre Rio, o pássaro macho bate na cabeça da fêmea sem querer. Isso é mostrado com classificadores num plano médio e alterna com uma tomada aproximada que apresenta a fêmea esfregando a cabeça. O macho faz um carinho nela por meio de um classificador intermediário.

Câmera lenta

Em termos fílmicos, os sinais podem ser acelerados ou apresentados em câmera lenta. Nos dois textos analisados aqui não temos exemplos dessa alteração de velocidade, mas já vimos essa estratégia utilizada no capítulo 05, com a cena do rato pulando dentro da sala de ferramentas em Eu x Rato e com a bolinha na narrativa Bolinha de Ping-pong.

10.3 Isso é mímica?

Muitas pessoas que não conhecem a literatura em Libras pensam que ela é uma forma de mímica. Às vezes, ambas parecem ser iguais, mas as convenções literárias da Libras e da mímica, bem como as habilidades de seus públicos, são diferentes. Não é sempre útil tentar usar as teorias criadas pelos gêneros textuais dos ouvintes para descrever a Libras literária, mas vale a pena entender algumas diferenças entre mímica (uma forma de teatro silencioso que Marcel Marceau ensinou a Bernard Bragg – ver capítulo 07) e a forma de Libras literária que parece ser a mais visual. Uma pesquisa feita por Rachel Sutton-Spence e Penny Boyes Braem (2014) comparou as produções dos artistas surdos e dos mímicos profissionais e encontrou muitas diferenças.

O espaço de apresentação da cena visual é muito diferente: o da mímica é muito maior do que o da Libras literária. Os mímicos usam o corpo inteiro e os artistas se deslocam para mostrar os movimentos, como o de caminhada por exemplo. Já em Libras, geralmente nos sinais, nada é articulado abaixo dos quadris, os artistas ficam no mesmo lugar e movem apenas as mãos e o corpo para representar movimento ou deslocamento. A mímica usa todo o espaço vertical, inclusive o chão, mas em Libras, além de apresentações excepcionais, os artistas não deixam os sinais caírem abaixo dos quadris.

O tipo de transferência também é diferente nas duas técnicas. Na mímica, vemos quase sempre a transferência de pessoa (podemos dizer que é um tipo de incorporação), enquanto os poetas e artistas de Libras também usam esse recurso, porém com a diferença de frequentemente misturarem essa incorporação com transferências de forma (ou seja, misturar a incorporação com a narração por classificadores). Isso permite que os artistas de sinais façam uma troca de perspectivas em sinais que os mímicos não usam, entre a pessoa e a forma. Geralmente, há menos personagens nas histórias pantomímicas e ainda menos pe rsonagens são mostrados. Por exemplo, numa narrativa em Libras pode haver um homem, uma mulher e um cachorrinho e o contador pode incorporar os três - prestando atenção no espaço ao redor de cada personagem para manter a coerência entre eles. O homem olhando para baixo e para a direita vê o cachorro, e o cachorro olhando para cima e para a esquerda vê o homem. Essa coerência cria uma boa experiência visual. Os mímicos geralmente mantêm um personagem só, embora os olhos mostrem as informações sobre os lugares dos personagens. Se já incorporou o homem, podem imaginar o cachorro (por exemplo, puxando a coleira que o homem segura) e a mulher (a quem o homem sorriu, levantando o chapéu e oferecendo uma flor), mas é incomum os mímicos mostrarem todos os personagens e, se mostram, eles se movimentam muito mais no palco, se deslocando para lugares distintos e mantendo uma perspectiva por mais tempo do que os artistas de línguas sinais.

Não é que os mímicos sejam incapazes de criar múltiplos personagens ou de usar transferência de forma, mas o seu público é que não consegue entender essa dinâmica, porque não está acostumado a ver essas trocas ou compreender o uso do espaço. Já um público surdo entende facilmente o espaço para as múltiplas perspectivas.

Um bom teste para comprovar as diferenças entre os mímicos ouvintes e os poetas surdos, apresentado por Sutton-Spence e Boyes Braem, abordou como os dois tipos de artistas incorporam um sapo e um lápis. O mímico profissional Don McLeod incorporou um sapo com o corpo inteiro. Pensando no peso do animal, no ritmo e no movimento; o corpo dele se tornou o corpo do sapo ao fechar os olhos e mexer a boca e a língua como um sapo faz. McLeod disse:

comece com ritmos (língua, movimento da cabeça), tempos, padrões de movimento e a essência básica de um sapo; então evolua lentamente de um sapo (agachado) para uma pessoa parecida com um sapo (vertical)26

O artista surdo britânico Richard Carter também incorporou o sapo, mas usou as mãos para criar as partes do corpo que o sapo tem e o humano não tem: como os olhos arredondados, o papo e a língua comprida. Nas imagens abaixo, vemos que o mímico abaixou a cabeça, fechou os olhos e mostrou a língua. Em comparação, Richard usou a mão esquerda para representar o pé do sapo e a mão direita virou a língua pegando uma mosca. A língua humana é mais curta do que a língua do sapo, mas a mão permite uma extensão. Ele mostra também sua própria língua para incorporar o sapo e isso ajuda na identificação da mão como a língua (Figura 3).

Artistas fazendo mímica de um lápis

Figura 3: Incorporação de um sapo (mímico e artista surdo)

Três mímicos profissionais – Emily Mayne, Dennis Schaller e Don McLeod – incorporaram um lápis com imaginação e criatividade, cada um deles usando o corpo inteiro (Figura 4). O movimento de escrita foi feito no chão, que usaram como a folha de um papel. Para Emily, a ponta do lápis estava nos pés, o que permitiu a ela escrever no chão; para Dennis e Don, estava na cabeça, o que criou um problema para a escrita. Dennis criou a ponta do lápis com as mãos e Don colocou a cabeça dentro do apontador e girou sua manivela, exemplo raro de perspectivas múltiplas entre os mímicos.

Artistas fazendo mímica de um lápis

Figura 4: Opções para incorporação de um lápis (mímicos)

Por outro lado, o artista surdo Richard Carter usou apenas as mãos e a cabeça para mostrar o lápis; e a mão para mostrar a folha de papel (Figura 5). As mãos mostraram a ponta do lápis, igual a Dennis, mas o rosto também mostrou a ponta do objeto. Para representar a escrita num papel, Richard colocou o rosto na palma da mão. Para apontar o lápis, ele colocou o rosto entre as duas mãos, onde fica o apontador. O público surdo entende que a mão significa o papel e o apontador também, mas o público ouvinte vai ter mais dificuldade para compreender essa troca de referentes.

Artistas fazendo mímica de um lápis

Figura 5: Incorporação de um lápis com classificadores (artista surdo)

10.4 Vernáculo Visual - VV

Retomando o assunto dos contos em VV e lembrando da descrição de Peter Cook apresentada no capítulo 07, podemos ver que neles se usam as técnicas de mímica e teatro, mas também elementos cinematográficos. Tudo, porém, é baseado no uso da Libras como uma língua visual.

Já vimos no capítulo 07, também, que um dos primeiros exemplos de VV criado por Bernard Bragg foi um conto curto sobre um caçador que saiu com o cão para pegar um pato. É um conto lento e suave. Esse estilo contido e moderado dele era mais típico das normas literárias de ASL naquele tempo. Existem exemplos em Libras dessa forma também, como O Modelo do Professor Surdo, de Wilson Santos Silva27, e Tinder, de Anna Luiza Maciel.

No entanto, a tendência atual de VV em Libras parte de outra perspectiva, haja vista que muitos contos atualmente são feitos por homens ou adolescentes sobre tópicos de ação, tais como lutas entre guerreiros, extraterrestres esquisitos e corridas de carro, construídos com muita energia e ritmo intenso. Nada impede que as mulheres criem em VV (e existem contadoras de VV reconhecidas), mas esse é um gênero atualmente mais ligado aos homens.

O conto VV, de Lúcio Macedo, é um bom exemplo de VV em Libras, pois é muito fílmico. Nele, o contador não usa nenhum sinal do vocabulário da língua. Às vezes ele usa o corpo inteiro para mostrar o movimento dos personagens e até se desloca para estar em dois lugares diferentes quando incorpora dois papéis. Por outro lado, Macedo usa classificadores com a incorporação, que fazem parte da Libras. A história é complexa, fala sobre duas pessoas, ocorre em dois tempos e em dois lugares diferentes, mas é sempre compreensível por causa das apresentações visuais.

No entanto, existem histórias apresentadas pela técnica VV sobre outros assuntos. Maurício Barreto utilizou-a quando contou a história bíblica Julgar a Prostituta, uma das mais dramáticas do Novo Testamento. Foi, sem dúvida, uma oportunidade para um artista de Libras recontar uma história de forma extremamente visual, com todos os elementos do VV e com técnicas cinematográficas como as trocas de tomada (“close-up” e “long-shot”, rápida e lenta) e a troca de papéis, muito rápidas e bruscas, mostrando a multidão, a prostituta e Jesus. Barreto usa alguns sinais do vocabulário em Libras, classificadores e incorporação, com um ritmo destacado e muita repetição para criar um conto como se fosse um filme.

10.5 Resumo

resumo

Nesse capítulo, vimos a forte influência de técnicas de cinema nas narrativas em Libras. A linguagem visual dos filmes influencia uma certa forma de contar histórias. Apesar de parecer mímica, os artistas surdos que contam histórias visuais em Libras usam técnicas de Libras com técnicas cinematográficas para criar imagens fortes nas histórias e nos poemas, utilizando o corpo inteiro para entreter um público que entende bem a gramática desse tipo de literatura surda.

atividade

10.6 Atividade

Assista à Bolinha de Ping-pong, de Rimar Segala.

  1. Dê exemplos de momentos em que ele, como o contador, usa ângulos diferentes para apresentar imagens tais como alto e baixo, esquerda e direita, rastreamento e como mostra o ponto de vista de diferentes personagens.
  2. Procure exemplos de sinais:

    • com diferentes distâncias (perto, longe ou intermediária)
    • com diferentes comprimentos (curto, longo, muito curto, muito longo, ou mediano)
    • com velocidades diferentes (velocidade “normal”, “rápido” ou “câmera lenta”)
  3. Procure exemplos de “edição” em que as tomadas são apresentadas em uma determinada ordem para gerar emoção.
Nos tempos antigos, os filmes eram mudos e os surdos participavam muito deles. Charlie Chaplin, ator consagrado dos filmes mudos, influenciou muitos artistas surdos e é uma referência até hoje. Existe mais uma opção para mostrar o pássaro ainda mais afastado, em que dois dedos entrelaçados são as asas do pássaro a uma grande distância, mas Fernanda não usou essa possibilidade no poema. “Start with rhythms (tongue, head movement), tempos, movement patterns and basic essence of a frog; then evolve it slowly from a frog (crouching) into a frog-like person (upright).” Não é 100% sem sinais. Tem um sinal de Libras nesta produção: gesto.